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  • Rudy Rafael

Disfarçando ignorância com comédia

Quando o homem situa-se na linearidade histórica a cronologia acaba empurrando-o à aceitação de que o homem atual é sempre superior e mais evoluído que o antigo. A idéia de que tudo evolui é de bom grado ao homem. Há 2.500 anos, na Grécia Antiga, Heráclito dizia que as risadas tinham o poder de neutralizar os problemas da sociedade. Guerras e vícios poderiam ser esquecidos com boas gargalhadas. Naturalmente que a filosofia grega tinha uma função maior do que apenas racionalizar; objetivava mudança. Eles não diziam o que diziam apenas por dizer, mas para que algo mudasse. Passados 2.500 anos convivemos com a mesma situação: quando a pessoa não sabe o que dizer sobre determinado assunto, ela faz piadas, ri, debocha. O homem em seu Ego não suporta a idéia de que o mundo funcione sem ele. Ver que o mundo pode girar sem ele, que as pessoas podem conversar sem que ele se manifeste, causa transtorno tamanho que não sendo possível participar positivamente do debate, somando idéias, opta-se pelo caminho inverso: a destruição da discussão através do desfoque por piadas, comédias e risadas.

Uma frase que com certeza mudaria o mundo é “Eu não sei”. Imaginem como o mundo seria um lugar melhor se as pessoas tivessem a coragem de dizer “Eu não sei”. O homem que ao invés de dizer que sabe o que não sabe, e estaciona em conhecimento, diz que não sabe e vai atrás para saber. A pessoa que quando não sabe nada sobre o assunto discutido, quando não tem o que falar, não suportando a idéia de que o grupo continue o debate sem a presença dela, usa-se da comédia, das piadas, das risadas, numa tentativa desesperada de desfocar o assunto. Diz-se que conhecimento é poder; e isto não é dito à toa. O homem como lobo do homem busca o poder, e o homem ignorante não tem poder, não tem as rédeas da situação. Ele vê o grupo debatendo, conversando, e ele se sente impotente, pois sua própria ignorância lhe causou esta impotência. Busca aceitação e não se vê incluído, pois o assunto transcedeu seu limitado estado de consciência, então é preciso trazer de volta para o seu potencial, fazendo com que deixe-se de debater a idéia para voltar ao estado charcoso e pútrido da frigidez de idéias. Trata então de reverter a situação, incapacitado de criar e somar, tenta destruir o debate.

Surge então a tentativa falaciosa de justificar tal conduta com: “rir é bom”, “pessoas que não riem são infelizes”, “quem ri muito é feliz”; tentam justificar sua ignorância com a estigmatização que a sociedade dá de pessoas felizes; como que se a felicidade fosse necessariamente, tão e somente, rir de tudo o tempo todo; e isto lhe serve como boa justificativa. “Eu rio de tudo, pois eu sou uma pessoa feliz; você não ri, você é infeliz”. Obviamente que a ignorância vai tentar ser justificada de alguma forma, e o apelo emocional e falacioso é o que mais serve à plebe de intelecto; pois é muito mais prático e fácil evocar eternas piadas genéricas do que ir conhecer sobre o assunto debatido. Desconhecem, entretanto, que a grande maioria dos filósofos gregos não sorriam, assim como os modernos. Na escola de Pitágoras, o neófito deveria ficar 3 anos sem pronunciar uma só palavra, e a menos que tal recinto vivesse em risos através de mímicas e pegadinhas de pessoas escorregando em cascas de bananas e levando sustos com pessoas saindo de lixeiros, natural presumir que a sabedoria anda mais de mãos dadas com a sensatez do que com o desespero, pois, como já disseram: “rir de tudo é desespero”.

Ao que não tem o que somar em um debate, há de se esperar que tente transmutar tudo em risos, piadas, comédias e risadas. A conduta é presumível e não há de se esperar coisa diferente. Cada um dá o que tem. Quem não tem idéia para dar, não dá. O que há de se fazer é que aquele que tem algo a somar não se deixe levar pela necessidade de tornar-se igual ao povo, deixando de debater e compor idéias para fartar-se em gargalhadas; pois isto nada lhe somará em sua vida. Não deve-se nunca ter desprezo ou repúdio para com aqueles que sendo ignorantes no tema tentam destrui-lo e desfocá-lo com piadas e risadas. Estes não sabem o que fazem e a piedade e compaixão merecem. O sábio há de amar as idéias e o mundo das idéias com tanto ardor que tornar-se-á cego à profanação da discussão pela ignorância que tenta debilitar intelectualmente o seu tesouro. Seu coração amará tanto Sophia, que só terá olhos para tão e somente ela e todas as tentações do mundo lhe passarão desapercebidas pois só terá olhos para o seu grande amor: a sabedoria.

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