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Rudy Rafael

Meu conselho para um jovem grego na Grécia Antiga

Já houve um tempo em que a humanidade em sua maioria buscava o conhecimento por Amor e para a exaltação do próprio Ser. Nem sempre a Terra foi um amontoado de bestas idiotas e tolas como hoje e o planeta já teve dias melhores, como na Grécia Antiga, onde o Amor ao conhecimento era verdadeiro e quem o buscava o fazia para si, para tornar-se alguém melhor. Assim como hoje ninguém se vê “gastando” tempo e dinheiro se instruindo sobre algo que não lhe dará retorno financeiro, na Grécia Antiga não havia qualquer associação entre buscar o conhecimento meramente como meio para atingir o fim financeiro. Por mais que a Grécia Antiga tenha sido inferior ao Antigo Egito, é de se fazer valer a filosofia grega, deixando claro que de fato a filosofia grega não surgiu na Grécia Antiga, pois não foi algo que os antigos gregos criaram, mas sim que já veio com certas pessoas que ali encarnaram trazendo aquilo tudo para aquela região. A verdadeira filosofia grega é a busca interna e verdadeira da Verdade que se mostra pelo autoconhecimento, não o louvor insano à crítica e à opinião como hoje se tem o “pensar”.

Uma vez na Grécia Antiga um jovem grego me perguntou quem ele deveria seguir. Eu era um velho sábio grego – aquilo que hoje chamam de “filósofo” -, de barba e alguns cabelos brancos . Ele veio até mim para se instruir sobre como deveria ser o seu mentor. Na Grécia Antiga as pessoas eram interessadas em real evolução do Ser e por isso possuíam mentores, os quais eram pessoas mais velhas e consequentemente mais aptas a lhes transmitir conhecimento e sabedoria. O mentor não era necessariamente muito mais velho que o aprendiz e já poderia sê-lo tendo 10 anos a mais que o aluno. Seu trabalho era essencial para o jovem em seus 20 anos, pois este era considerado o período de preparação do interior para a vida da busca na Grécia Antiga. Vivendo seus 20 anos sob a instrução de um mentor ao chegar aos 30 anos o grego poderia desvencilhar-se do laço e tornar-se mentor de outro. Enquanto no atual sistema educacional os professores ensinam os alunos para que ao final ganhem mais dinheiro, na Grécia Antiga os mentores ensinavam os alunos para que se tornassem pessoas melhores. Os gregos trabalhavam o interior do homem.

O jovem grego que veio até mim perguntou: “- A quem eu devo seguir?” e eu respondi: “- Aquele que tem sangue nas sandálias, deixe-o, aquele que tem barro nas sandálias, respeite-o e aquele que está descalço, siga-o”. Eu já era velho e não iria ser mentor de alguém, mesmo assim o jovem grego quis minha instrução para saber quem ele deveria ter como mentor. Tal jovem tinha evidente diferencial, pois quis saber sobre como deveria ser o seu mentor, o que não era uma atitude comum naquela época. Por mais que não houvesse a liberdade para o aluno escolher o mentor que quisesse e que devesse aceitar o mentor que lhe fosse indicado, aquele jovem, receando que pudesse lhe ser indicado um mentor que não lhe instruísse de forma adequada, me procurou para saber qual mentor deveria ter, demonstrando ser grande desde jovem. Percebe-se que já na Grécia Antiga havia alguém preocupado que pudesse ser instruído pela pessoa errada e isto evidencia que existem espíritos mais evoluídos do que outros. Séculos antes de Cristo se preocuparam, hoje não há um que se preocupe.

A pergunta do jovem grego dizia respeito ao seu futuro, que seria preparado no presente através das instruções que receberia de seu mentor. O passado do mentor deveria ser analisado, por isto minha resposta teve a ver com os pés. Os pés representam o passado, tudo aquilo que uma pessoa traz com ela vem com seus pés, pois foram seus pés que lhe levaram a seus anteriores caminhos. É importante lavar tanto os pés quanto as mãos antes de realizar qualquer trabalho espiritual e jamais se deve entrar no próprio quarto com os calçados com os quais se veio de fora de casa. A poeira, mesmo que mínima, que vem com as solas dos calçados carrega a energia do local de origem. Não adianta alguém evitar determinado local se deixa entrar em seu quarto alguém calçado que o frequenta. O quarto pessoal é o templo mais íntimo de uma pessoa como mesocosmo imediato e deve ser preservado, pois é ali que o corpo físico repousa e a alma encontra liberdade maior. A desorganização da própria vida começa com a desorganização do próprio quarto, ainda mais quando este é desprotegido deixando-se qualquer um adentrá-lo.

O sangue é o karma. Aquele que tem sangue nas sandálias é aquele que tem karma a cumprir e não está em condições de instruir alguém em razão disto. O sangue é a vida e aquele que tem sangue nas sandálias tem sangue nas mãos; o sangue das vidas que tirou no passado, tanto em suas vidas passadas como na vida atual. O sangue está nas sandálias porque os pés ainda não foram lavados, o karma pelo sangue derramado – pelas vidas tiradas – ainda não foi pago. A redenção faz parte da Providência Divina e existe o perdão, mas tudo sempre deverá ser ajustado e é preciso que haja este ajustamento antes de instruir alguém. Para colocar água limpa em um copo sujo é necessário lavá-lo primeiro. Um povo que elege terroristas – pessoas que participaram direta ou indiretamente de atentados terroristas que tiraram vidas – como seus representantes não pode esperar algo bom para seu país e deverá responder karmicamente por sua conduta de dar poder para aqueles que têm sangue nas mãos. O homem pode ser tolo, mas Deus não é. Escolher alguém com sangue nas mãos para seguir não pode gerar bons frutos.

O barro nas sandálias diz respeito ao trabalho. Quem tem barro nas sandálias é porque andou no barro, na terra e na lama porque trabalhou e todo aquele que trabalha, independentemente do ofício, merece respeito porque participa da Grande Obra. Aquele que tendo plenas condições físicas, psíquicas, emocionais e intelectuais de trabalhar não o faz, vai de encontro ao Universo e todo aquele que vai de encontro ao Universo responderá por tal desarmonia. Não obstante a importância do trabalho, aquele que apenas trabalha também não está em condições de instruir, pois seu ideal de bondade é apenas o de não fazer o mal. São as pessoas que pensam que são boas apenas porque não fazem o mal, porque cumprem suas obrigações civis e porque obedecem as leis vigentes. Tudo isto não é mérito algum, é obrigação e é natural que assim se viva. Tais pessoas são mornas e verdadeiramente egoístas, pois não se envolvem e pensam apenas em sua própria vida e quem pensa apenas na própria vida não tem legitimidade para pensar sobre a vida alheia, não podendo instruir alguém por não ter sabedoria alguma.

Os pés descalços representam o desapego verdadeiro que apenas os mestres espirituais têm. Eu disse ao jovem grego que ele deveria seguir aquele que estivesse descalço, pois aquele que está descalço alcançou o nível de desapego total de absolutamente tudo. O desapego verdadeiro é a desnecessidade e a desnecessidade do desapego verdadeiro é a desnecessidade de tudo e de todos. Precisar ser feliz é uma necessidade, precisar amar é uma necessidade, precisar ser amado é uma necessidade e toda necessidade é um apego, pois a necessidade é o oposto do desapego. O apego de uma pessoa se mostra naquilo que ela precisa e precisar de algo é ser escravo disto. Aquele que precisa é porque está apegado e quem está apegado não possui a mestria para ser mentor. O andar descalço representa o desapego total de tudo e de todos. O mestre que anda descalço mostra que nada é dele, que está completamente desapegado de tudo e de todos. Instruí o jovem grego que seu mentor deveria ser um mestre espiritual, pois somente este teria competência para lhe fazer um grande homem.

Pessoas que se dizem envolvidas com a espiritualidade falam sobre o desapego, mas não o vivem verdadeiramente. Estão apegadas ao seu Eu Exterior, pois têm medo de serem ridicularizadas, humilhadas, desacreditadas, menosprezadas, desprezadas, contestadas e criticadas. Não conhecem o seu verdadeiro Eu Interior, Eterno e Imutável, por isto apegam-se ao seu Eu Exterior e vivem com medo. As pessoas também acreditam que há “apegos ruins” e “apegos bons”, considerando-se “bom” ou “ruim” apenas aquilo que sua mente lhes indica; assim como acreditam que existem “ódios bons” e “ódios ruins”. A humanidade já aceitou que o ódio ao criminoso é válido, que o ódio a quem faz o mal é diferente do que o ódio a quem faz o bem – como se houvesse diferenças e legitimidades entre ódios -. Vive-se o apego à felicidade, aos bons momentos, aos animais, aos familiares e a tudo aquilo que traz a sensação de bem-estar, existindo, portanto, a legitimidade para apegar-se desde que o apego seja a algo bom. As pessoas querem ser felizes, os mestres espirituais não querem. Querer é sempre apego.

Os humanos não nascem sabendo e é válido que aprendam com os mais velhos e mais experientes, mas é preciso sempre saber quem é aquele que tentará ensinar algo. Para que uma pessoa queira instruir outra sobre um tema é necessário primeiramente que ela domine este tema. Quem não sabe andar de bicicleta não pode ensinar outro a andar de bicicleta e deve primeiro aprender para si para depois pensar em passar o conhecimento aos outros. Não basta que uma pessoa tenha feito um trilhão de cursos, lido um bilhão de livros e tenha um milhão de diplomas sobre como andar de bicicleta para que consiga ensinar outra pessoa a fazê-lo, ela precisa saber andar de bicicleta. A responsabilidade maior não é daquele que tenta ensinar algo sobre a espiritualidade sem ter legitimidade para tal, mas de quem aceita ser instruído por quem não tem competência para isto. Cada um deve desenvolver a percepção para olhar os pés de seus guias na espiritualidade e perceber se estão com sangue, barro ou se estão descalços. Mais tolo do que o tolo é quem o segue. Na espiritualidade se sabe que cada um faz o seu caminho.

Da minha vida na Grécia Antiga sei que hoje o homem tem formas imbecis de “pensar” que já naquela época nós filósofos gregos expúnhamos como tolice, o que evidencia mais ainda a involução da raça humana. Naquela época o Amor ao conhecimento trazia o sentimento de vergonha pela ignorância e era comum para certas pessoas sentirem-se mal consigo mesmas por ignorar. Hoje as pessoas se preocupam mais em ser engraçadas do que em abandonar a ignorância nata. Desde criança sempre preferi interagir com pessoas mais velhas, pois sempre foi uma forma de tentar minimizar a mediocridade da raça humana. As pessoas menos inúteis, com as quais sempre se desperdiça menos tempo, são as mais velhas. Enquanto hoje as pessoas buscam pessoas mais jovens com a esperança de perpetuar sua própria juventude, na Grécia Antiga buscavam-se as mais velhas com o intuito de obter sabedoria. A filosofia grega era mística e a inspiração dos filósofos gregos era tentar compreender Deus. Aqueles de hoje que têm por objetivo desacreditar Deus nem seriam ouvidos na Grécia. O jovem grego se tornou grande, pois já nasceu grande.

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