O sistema econômico da sociedade está mudando. A classe-média está desaparecendo. O abismo entre os mais ricos e os mais pobres é cada vez maior. 90% da riqueza mundial está nas mãos de 10% da população, parcela esta que tenderá a ter cada vez mais riqueza enquanto os outros ficarão cada vez mais pobres e o povo mesmo é responsável por isto tudo. Os maiores empregadores são as micro e pequenas empresas. São nestas que não exigem doutorado para carregar engradados de refrigerante, são nestas que não é necessário ter ensino superior completo para vender lápis e borracha, que não exigem nível médio para limpar a cozinha e que empregam o cidadão mais humilde, as massas.
Pessoas simples, com pouca instrução têm muito mais chances na padaria da vizinha, na sapataria do amigo, na lojinha de R$ 1,99 da tia, na peixaria da esquina e em todo o mercado informal do que nas grandes empresas, que através dos controles de qualidade estão exigindo cada vez mais instrução dos funcionários. A padaria da esquina, a lojinha de R$ 1,99, o sapateiro, a costureira e todos estes trabalhadores que trabalham e empregam estão desaparecendo cada vez mais e pela própria conduta impensada do povo, que ao invés de fomentar a economia local, de seu bairro, sua comunidade, injeta dinheiro nas mega empresas, nas multinacionais estrangeiras, fazendo o capital se concentrar cada vez mais nos países desenvolvidos e nas mãos dos ricos.
Cada vez que você precisa comprar pão e ao invés de comprar o pão na padaria da esquina, compra na mega-ultra-power-fantástica rede de supermercados que tem no Brasil todo, você está ajudando a pequena padaria da sua comunidade a diminuir o lucro e assim um dia futuramente a fechar, fazendo com que os funcionários tenham que procurar a mega-ultra-power-fantástica rede de lojas, mercados e produtos para trabalhar. Cada vez que fura a sola do seu sapato e ao invés de você levar ao sapateiro, você já vai na mega-ultra-power-fantástica loja do shopping comprar um novo sapato, você está ajudando este sapateiro a fechar e fazê-lo abandonar seu ofício e ir trabalhar na mega-ultra-power-fantástica multinacional com sede em sua cidade.
Esta coisa de não consertar as coisas, de não usar até estragar e viver o tempo todo comprando mostra o vazio existencial que se tem hoje no nosso meio. As pessoas pretendem preencher o vazio de suas almas comprando ou comendo, e o consumo exacerbado chega a se tornar uma doença. Comprar “faz bem”, as pessoas se sentem realizadas quando estão no shopping cheias de bolsas, comprando aquilo que já tem em casa, tudo isso porque não tem nada dentro de si e tentam preencher o interior com o exterior, mas nunca irão conseguir. Quando compram algo novo na mega-ultra-power-fantástica multinacional, na mega-ultra-power-fantástica rede de roupas e alimentos, estão ajudando a crescer estas empresas e a dar fim na pequena empresa, da sua rua, da sua comunidade, do seu bairro, da sua cidade.
As grandes fusões e incorporações estão criando multinacionais descomunais, que tendem a cada fez fundir e incorporar mais e mais e tornar o planeta a terra de poucos que terão o controle sobre os meios de produção e da riqueza. A empresa que vendia refrigerante se junta com a empresa que vendia cerveja e agora vende cerveja e refrigerante. Depois se juntam com a empresa que vendia vegetais, depois com a que vendia grãos e assim vão criando um verdadeiro império, império este que não estão precisando suar muito para construir, pois o próprio povo está construindo cada vez que abdica de fomentar a economia de sua comunidade para injetar dinheiro nestas mega empresas.
Nas grandes empresas tem-se a mais-valia de Marx: em um mês de 30 dias de trabalho, o funcionário faz render em poucos dias o valor do seu salário e o resto trabalha de graça ao empregador, pura e simplesmente para o enriquecimento deste. Se você compra um sapato em uma mega-ultra-power-fantástica loja, você está mais ajudando um empresário milionário a ficar mais rico do que ajudando o funcionário a manter-se. Um funcionário de uma loja grande faz render infinitamente mais do que seu salário. Às vezes até em um único dia o funcionário faz render ao empregador muito mais que ele lhe pagará em seu salário e assim o funcionário trabalha de graça para o empregador, fazendo-o ficar cada vez mais rico.
Um dos problemas do mundo é a distribuição de renda. O equilíbrio está justamente em bilhões de pobres de um lado e poucos ricos de outro e só há uma forma de mudar isso: distribuindo melhor a renda, deixando de gastar com os ricos e gastando com os pobres. Se você precisa comprar uma caneta, pra que comprar na mega-ultra-power-fantástica rede de mercados nacional e não comprar na lojinha de R$ 1,99 da esquina da sua rua? Você estará injetando dinheiro na parcela mais baixa da população e não ajudando os milionários a ficarem cada vez mais ricos. Se você gasta na empresas dos milionários, você está apenas ajudando a alguém comprar mais mansões, mais iates, mais BMW´s, mais jatinhos.
Se você gasta com as pequenas empresas, com os trabalhadores autônomos, com a parte mais pobre da população, você está ajudando pessoas a terem o que comer. Não é difícil escolher qual a melhor opção: ajudar alguém a sobreviver ou ajudar alguém a comprar mais carros, jatinhos e mansões? Com o crescimento das grande empresas e o fechamento das pequenas, a classe-média está desaparecendo. A sociedade acaba se divindo entre ricos e pobres, onde os pobres trabalham para os ricos e mais não para si mesmos. O interesse da elite em acabar com a classe-média é compreensível. Os ricos não têm interesse em que algo mude, os pobres não tem dinheiro e tempo para promover mudanças.
Os que possuem recursos para mudar algo são justamente os da classe-média. Se a classe-média acabar não haverá mais ninguém que possa mudar algo (lembrando que a maior revolução da história e que criou os alicerces de nosso mundo atual foi a Revolução Francesa, onde a classe-média moveu a classe inferior e juntos fizeram acontecer). É necessário que o capital se descentralize das grandes empresas e fique nas mãos dos mais pobres. Sempre que for comprar algo, compre sempre no local mais humilde, não na mega-ultra-power-fantástica empresa. É por óbvio que a pessoa irá observar o melhor preço, porém, além de não ser raro que a pequena empresa tenha preço melhor que a grande, às vezes você gasta mais tempo e dinheiro (com transporte, combustível) se deslocando até a mega-ultra-power-fantástica empresa do Centro do que indo até a pequena empresa de seu bairro.
Não é necessário comprar remédios na mega loja de farmácias do shopping, você pode comprar na farmácia da sua rua, do seu bairro. Lembre-se: esta mesma farmácia que está à sua disposição aí na sua esquina e que você não ajuda a manter e crescer, pois compra na mega loja de farmácias, pode um dia vir a fechar e se você precisar um dia ela não estará mais ali para você e você terá que ir até a mega loja, em um lugar mais distante. Quando o seu sapato estraga e você leva ao sapateiro para consertar, saiba que você está ajudando alguém a sustentar a si próprio e à sua família, mas se você vai na mega-ultra-power-fantástica empresa comprar um novo sapato, você está apenas fazendo um milionário ficar mais rico e ajudando a criar um modelo de imperialismo que já está difícil de combater, mas que com o tempo poderá ser irremediável e não poderemos mais voltar atrás.
Se você quer mudar o mundo, a primeira coisa a fazer é deixar de fazer os ricos ficarem mais ricos e os pobres mais pobres. Existem necessidades mais importantes do que bens materiais, a sobrevivência é uma delas. Veja que o mundo é a grande soma de pequenos organismos. Você não precisa mudar o mundo todo, mas basta que você faça a sua parte e se começa pela própria comunidade. Não compre o pão no mega mercado do shopping, compre na padaria da esquina, se o sapato estragar, não precisa comprar um sapato novo, tente consertar, se não conseguir, compre na pequena empresa. Injete o seu dinheiro nos mais pobres e assim o abismo social irá diminuir.
Se continuarem assim, injetando dinheiro nas grandes empresas e abandonando as pequenas, acabará que no futuro haverá duas castas bem distintas: os trabalhadores e a elite, onde a grande parte do mundo trabalhará para cada vez menos empresas, trabalhará e terá que gastar seu dinheiro todo nesta mesma empresa que trabalhou, pois esta empresa venderá alimentos, vestuário, eletrodomésticos e tudo mais; e um regime onde a vida se resume a dormir, trabalhar e apenas ter contraprestação em necessidades básicas de sobrevivência (no caso de gastar o que ganhou na mesma empresa em que trabalhou) é um regime de escravidão. Assim a humanidade viverá uma verdadeira escravidão, escravos de um império que eles mesmos criaram e não haverá mais volta. Se quer impedir que isso ocorra, é preciso deixar de fazer os ricos mais ricos e os pobres mais pobres e isto você ainda tem o poder para decidir, basta escolher onde comprar e onde gastar.
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